Monday, July 02, 2007

des-importatissimo

Abro a porta do enigmático e de olhos fechados entro.
Tudo é vazio no começo, mas cores vão surgindo aos poucos, vão surgindo da mistura de outras cores, as vezes surgem por causa de uma luz batendo em uma direção diferente, criando sombras e penumbras e ninguém pode enxergar direito os espaços onde a cor é preta.
Onde há vazio, nunca se sabe o que pode surgir.
Um bosque vai se formando no meu vazio, eu caminho por ele e quando as folhas das árvores começam a cair com o vento o tempo parece parar, mas como o tempo pararia se a vida e a morte das folhas continuam?
O tempo não pára, mas eu paro pra olhar e não vejo isso como tempo perdido.
Continuo a caminhar, passo por baixo de um túnel de pedras, que vai se estreitando e quase não da pra chegar do outro lado.
Mas eu chego, e este lado ainda está em construção, ainda é só vazio, o que eu poderia fazer nessas horas? Não tenho lápis, nem tinta!
Sento num banco solitário e velho, fico ali na espera de que tudo vá se formando.
Tenho medo de que apareça um monstro, mas aos poucos novas cores vão surgindo e várias outras portas aparecem, uma delas é a saída.
Mas porque eu haveria de querer sair?
Aqui está bom por enquanto e se me conheço bem, pra sair daqui, só mesmo abrindo outras portas pra outros enigmas bem diferentes, deixo a saída de lado...
Até não houver saída.
Só então percebo como ela é importante, e sinto desesperadamente sua falta.



Baseado em "falta de saidas" reais.

Saturday, June 16, 2007

Baby, see you later.

Há muito já não diziam palavras,
Há muito já não havia o que dizer,
Palavras eram inertes, sucumbidas às propriedades humanas.
O que era etéreo e sentido ia além das ideologias circunstanciais desses seres pensantes.
Sei que as três palavras mais guardadas do meu vocabulário, dariam uma frase completa.
Tudo se resumiria a elas, que nunca por mim foram dirigidas a ninguém.
Porém, não adiantaria soletra-las.
Aquilo tudo ia além, mesmo que fosse efêmero,
O mundo era todo você e minha alma e corpo eram todos seus, mesmo que durasse um segundo.
E eu que não sei o que é amar,
Nunca poderei saber que palavras usar.


Ela pensou nisso e disse com toda a convicção do mundo:
- Eu te amo.

Sem obter resposta, repetiu:
- Te amo.

E novamente ninguém a respondeu, ela olhou por todos os lados e viu que estava falando sozinha, ela se viu dentro do vazio, aquilo era o vácuo, ninguém poderia ouvi-la, ninguém poderia ouvi-la...
E no escuro do submundo onde se encontrava, ela se escondeu, de ninguém, ela se escondeu dela, ela correu pra se livrar daquilo, ela correu e tentou encontrar uma luz no fim do túnel...
De repente ela percebeu que não adiantaria correr, não adiantaria chorar, nem gritar, nem nada...

Então ela sentou e esperou o dia amanhecer.

Thursday, June 07, 2007

No domingo que acordei cedo

O dia amanheceu, eu corri pro quintal de pijama e senti frio, era uma manhã cheia de neblina e vento. Meu cachorro veio correndo comigo e ficou olhando pra cima, eu olhei pra cima também, um passaro que estava parado olhando pro horizonte (ou pra qualquer lugar) voou, uma pena desgrudou-se dele e voou junto, e a pena foi caindo beeeeeem lentamente, fazendo curvas pelo ar, parou leve e calma em cima do focinho molhado do meu cachorro,
e se grudou lá.

A vida passava, a vida passava, tocando minha pele, e eu amava-a intensamente.

Então eu olhei pro meu cachorro e falei:
"que bela pena você ganhou, não esqueça de agradecer"

Sunday, May 27, 2007

Escute bem, isso é meu silêncio.
Você pode ouvir?
Meu silêncio grita,
grita até ficar rouco.


Coitado dele.

Sunday, April 22, 2007

Fragmento de nuvem


Eu sou vidro por ser liquido,
se fosse sólido, seria areia.
Se fosse gasoso faria parte da espuma
que flutua no seu liquido,
espuma essa que também é liquido.
Descobri que sou vidro,
porque hoje
sou caco.

Monday, April 16, 2007

Vida

Tô com sono, fome e calor!!!!!


Que bom, né?
Se eu não conseguisse dormir, não sentisse fome e não estivesse com calor nos 30º que fazem minha cidade, aí sim eu poderia reclamar de alguma coisa.

Wednesday, April 11, 2007

Liguei para ti

e só deu tu!!

tu, tu, tu, tu, tu

sua chamada está sendo encaminhada para o serviço de mensagem e estará sujeita a cobrança após o sinal... Biii

quando se liga pro poeta:
liguei para ti
e só deu bi.

quando se liga para a mãe:
liguei para ti
e só deu chamada a cobrar, não sei porque, meu celular ta viciado.

quando se liga para si:
Eu liguei pra mim
e eu própria me falei que bebi demais. E depois gritei pra mim mesma que eu não pegasse meu celular de novo.

tá, chega.

Tuesday, April 10, 2007

a ta, a te, a ti, a to, a tu

até não oxigenar

até o vento parar de tocar

até parar de bater

...

mas é só até lá.
só até lá.

Sunday, April 08, 2007

precipitação

esperem o dia
esperem o dia surgir
esperem o dia
esperem o dia nascer
deixem que traga vida ao mundo
deixem aparecer e brilhar
de repente, de repente
somos novos
somos nós
acasos suburbanos da mente
inconsequentes!
em certos lugares não se observam estrelas
fiquei sabendo também, que existem lugares onde os passaros não cantam
e as formigas, onde estão?
perdidas, perdidas, perdidas
não há pote de ouro no fim do arco-iris!
não me venha com essa história.
eu sei o que tem lá!
Não vá espalhar, mas lá tem uma flor multicolorida
seu poder é refletir no céu
mas ela não controla esse poder, ele surge quando ela fica contente
essa flor foi plantada a muito tempo
por ninguem mais, ninguem menos
que a chuva.

Friday, March 23, 2007

beijos e folhas secas ao vento

E lá estava eu.
Eu caminhava, caminhava sozinha, caminhava pra me livrar de todas as coisas que não fossem você, caminhava pra desobstruir minhas veias, purificar meu sangue, livrar minha coluna vertebral do mundo que carrego, caminhava pra talvez te encontrar em alguma dessas ruas vazias, se isso acontecesse, se você aparecesse... Fingiria que tinha te encontrado sem querer, que foi apenas uma trompada qualquer com um conhecido que parece tão desconhecido e que eu estava indo em direção a alguma coisa que fosse mais importante do que apenas caminhar sem rumo, algum lugar que ocuparia ainda mais minha mente... Na verdade caminho em direção ao nada, caminho em direção ao tudo, à paz que jamais encontro em outros lugares que não sejam seus olhos, caminho em busca de um lugar, um lugar grande e vazio, um lugar muito distante ou muito próximo, ou qualquer lugar, onde eu possa te beijar, sem vergonha ou calma.

Wednesday, March 14, 2007

Tres pontos unidos, nunca serão um ponto final

Às vezes me sento em qualquer lugar, e mesmo que olhe pra todos os lados, não presto atenção em nada que se passa, apenas penso.
Me perco! Dou meus rasantes enlouquecidos pelo universo, como um kamikaze suicida a se jogar pelo mar apenas pra se encontrar com peixes e algas e todo tipo de água-viva. Saio de lá e em uma onomatopéia de asas batendo me vejo sobrevoando com meu dragão domado as ruínas esquecidas pela Roma, tão antiga que em um piscar de olhos posso ver cavalheiros a cavalgar com suas espadas tentando ser heróis de alguma boa cilada. Na imensidão enferrujada dos castelos vejo tiranos malditos procurando pequenas donzelas para poderem assassinar, ou quem sabe criar escravas de sua insatisfação corpórea (também conhecida como complexo de pinto pequeno).

Em apenas um pensamento posso voltar pra onde estou e continuar simplesmente a perder tempo pensando.
Penso, penso, penso.

Penso nos segredos que comigo irão pro caixão e que ninguém jamais saberá.
Penso nas besteiras e penso em qualquer coisa odiada.
E as vezes parece que alguém me lê, alguém ouve o barulho do galopar do meu cavalo negro indo em direção à montanha.
Talvez alguém esteja mesmo sabendo de tudo. Quem sabe alguém saiba de todos meus segredos. Quem sabe as nuvens estão a ouvir tudo e a comentar umas com as outras enquanto sobrevoam os céus. Quem sabe elas venham a se transformar em chuva e a contar aos peixes minha viagem. Quem sabe o céu sabe de tudo e de todos que habitam esse universo. Quem sabe na imensidão infinita existem vidas a nos observar atentamente, quem sabe exista um ser super poderoso que lança chamas pela boca. Quem sabe existem coisas que nunca acabem. Quem sabe nesse momento exista uma menina no escuro, sozinha, com um guarda-chuva na mão, e que todos os poderes do universo estejam se concentrando nela. Quem sabe não existam pontos finais e tudo é rodeado por uma gigantesca reticência...

Monday, March 05, 2007

.

O veneno da culpa parece descarregar suas células mortais, elas surgem bombeadas pelo meu coração parado e perdido nesse corpo constituido principalmente de moléculas gasosas, mas meu corpo está apenas preso nessa terra pela lei da gravidade que me gruda ao chão, dentro dessa sala de aula lotada de gente.
O que mais se dilacera é a alma nua que eu carrego, que parece não ter massa nenhuma, que parece não ter culpa nenhuma, que parece ser um vazio nas entranhas do meu destino.

Sunday, March 04, 2007

...E o encanto desapareceu no horizonte.

Era uma tarde ensolarada, e eu corria.
Corria o mais rápido possível, corria até não conseguir respirar direito e sentir que meu sangue todo ia sair pelos meus poros.
Procurava algum lugar pra me esconder, um lugar bem pequeno, algum lugar que me prendesse pra que eu nunca mais saísse de lá.
Subi naquela árvore, tão cheia de folhas que mal dava pra enxergar onde estavam seus galhos, fui até o topo e lá fiquei, me sentia muito mal, uma horrível sensação invadia tudo em mim e me dava náuseas.
Fechei os olhos e na mesma hora vi sua imagem, lá estava você de mãos dadas com ela. A luz do sol invadia minhas pálpebras e não me deixava ficar no escuro, me deixando tonta e me fazendo ficar ainda pior.
Então me encolhi em um galho e isso me acalmou um pouco, por um momento perdi a vontade de vomitar. Agora sentia que toda a luz ao meu redor entrava pelos meus olhos fechados e percorria todo meu corpo, depois ela invadia os corredores da minha mente e lá dentro ela se depositava em uma sala.
Dentro dessa sala estou eu, sozinha, cantarolando a sua canção favorita, me encolhendo num canto do chão.
Nesse momento toda luz que entra pela porta, sem pedir permissão, sem bater, sem chamar, começa a criar forma, vai se transformando aos poucos em um objeto com vida, mas sua forma é incerta, parecem moléculas gasosas e gigantes que se uniam e se separavam, sem nos deixar pistas de como seria sua forma original.
Uma pequena boca, vermelha e molhada surge desse monstro etéreo e começa a falar, interrompendo a canção que saia da minha boca:
- Deixe me partir.

Após repetir essas palavras várias vezes a boca do monstro estranho desaparece e por entre seu formato semi-abstrato surge um par de asas.


Abro os olhos e me agarro a um galho de árvore, sentia como se minha própria alma estivesse deixando meu corpo, por um momento achei que ia voar, mas o que vi voar foi o monstro de luz que agora ia embora lentamente, de costas pra mim. Fiquei olhando até que sua luz se confundisse com o horizonte e a luz do sol cegasse minha visão.
Então me senti extremamente bem.