Friday, March 23, 2007

beijos e folhas secas ao vento

E lá estava eu.
Eu caminhava, caminhava sozinha, caminhava pra me livrar de todas as coisas que não fossem você, caminhava pra desobstruir minhas veias, purificar meu sangue, livrar minha coluna vertebral do mundo que carrego, caminhava pra talvez te encontrar em alguma dessas ruas vazias, se isso acontecesse, se você aparecesse... Fingiria que tinha te encontrado sem querer, que foi apenas uma trompada qualquer com um conhecido que parece tão desconhecido e que eu estava indo em direção a alguma coisa que fosse mais importante do que apenas caminhar sem rumo, algum lugar que ocuparia ainda mais minha mente... Na verdade caminho em direção ao nada, caminho em direção ao tudo, à paz que jamais encontro em outros lugares que não sejam seus olhos, caminho em busca de um lugar, um lugar grande e vazio, um lugar muito distante ou muito próximo, ou qualquer lugar, onde eu possa te beijar, sem vergonha ou calma.

Wednesday, March 14, 2007

Tres pontos unidos, nunca serão um ponto final

Às vezes me sento em qualquer lugar, e mesmo que olhe pra todos os lados, não presto atenção em nada que se passa, apenas penso.
Me perco! Dou meus rasantes enlouquecidos pelo universo, como um kamikaze suicida a se jogar pelo mar apenas pra se encontrar com peixes e algas e todo tipo de água-viva. Saio de lá e em uma onomatopéia de asas batendo me vejo sobrevoando com meu dragão domado as ruínas esquecidas pela Roma, tão antiga que em um piscar de olhos posso ver cavalheiros a cavalgar com suas espadas tentando ser heróis de alguma boa cilada. Na imensidão enferrujada dos castelos vejo tiranos malditos procurando pequenas donzelas para poderem assassinar, ou quem sabe criar escravas de sua insatisfação corpórea (também conhecida como complexo de pinto pequeno).

Em apenas um pensamento posso voltar pra onde estou e continuar simplesmente a perder tempo pensando.
Penso, penso, penso.

Penso nos segredos que comigo irão pro caixão e que ninguém jamais saberá.
Penso nas besteiras e penso em qualquer coisa odiada.
E as vezes parece que alguém me lê, alguém ouve o barulho do galopar do meu cavalo negro indo em direção à montanha.
Talvez alguém esteja mesmo sabendo de tudo. Quem sabe alguém saiba de todos meus segredos. Quem sabe as nuvens estão a ouvir tudo e a comentar umas com as outras enquanto sobrevoam os céus. Quem sabe elas venham a se transformar em chuva e a contar aos peixes minha viagem. Quem sabe o céu sabe de tudo e de todos que habitam esse universo. Quem sabe na imensidão infinita existem vidas a nos observar atentamente, quem sabe exista um ser super poderoso que lança chamas pela boca. Quem sabe existem coisas que nunca acabem. Quem sabe nesse momento exista uma menina no escuro, sozinha, com um guarda-chuva na mão, e que todos os poderes do universo estejam se concentrando nela. Quem sabe não existam pontos finais e tudo é rodeado por uma gigantesca reticência...

Monday, March 05, 2007

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O veneno da culpa parece descarregar suas células mortais, elas surgem bombeadas pelo meu coração parado e perdido nesse corpo constituido principalmente de moléculas gasosas, mas meu corpo está apenas preso nessa terra pela lei da gravidade que me gruda ao chão, dentro dessa sala de aula lotada de gente.
O que mais se dilacera é a alma nua que eu carrego, que parece não ter massa nenhuma, que parece não ter culpa nenhuma, que parece ser um vazio nas entranhas do meu destino.

Sunday, March 04, 2007

...E o encanto desapareceu no horizonte.

Era uma tarde ensolarada, e eu corria.
Corria o mais rápido possível, corria até não conseguir respirar direito e sentir que meu sangue todo ia sair pelos meus poros.
Procurava algum lugar pra me esconder, um lugar bem pequeno, algum lugar que me prendesse pra que eu nunca mais saísse de lá.
Subi naquela árvore, tão cheia de folhas que mal dava pra enxergar onde estavam seus galhos, fui até o topo e lá fiquei, me sentia muito mal, uma horrível sensação invadia tudo em mim e me dava náuseas.
Fechei os olhos e na mesma hora vi sua imagem, lá estava você de mãos dadas com ela. A luz do sol invadia minhas pálpebras e não me deixava ficar no escuro, me deixando tonta e me fazendo ficar ainda pior.
Então me encolhi em um galho e isso me acalmou um pouco, por um momento perdi a vontade de vomitar. Agora sentia que toda a luz ao meu redor entrava pelos meus olhos fechados e percorria todo meu corpo, depois ela invadia os corredores da minha mente e lá dentro ela se depositava em uma sala.
Dentro dessa sala estou eu, sozinha, cantarolando a sua canção favorita, me encolhendo num canto do chão.
Nesse momento toda luz que entra pela porta, sem pedir permissão, sem bater, sem chamar, começa a criar forma, vai se transformando aos poucos em um objeto com vida, mas sua forma é incerta, parecem moléculas gasosas e gigantes que se uniam e se separavam, sem nos deixar pistas de como seria sua forma original.
Uma pequena boca, vermelha e molhada surge desse monstro etéreo e começa a falar, interrompendo a canção que saia da minha boca:
- Deixe me partir.

Após repetir essas palavras várias vezes a boca do monstro estranho desaparece e por entre seu formato semi-abstrato surge um par de asas.


Abro os olhos e me agarro a um galho de árvore, sentia como se minha própria alma estivesse deixando meu corpo, por um momento achei que ia voar, mas o que vi voar foi o monstro de luz que agora ia embora lentamente, de costas pra mim. Fiquei olhando até que sua luz se confundisse com o horizonte e a luz do sol cegasse minha visão.
Então me senti extremamente bem.